segunda-feira, 21 de maio de 2018

A Vida é só Desafio

Hélio Lima - Diretor do Espetáculo

A vida é só desafio. “Nos confins do horizonte” é uma peça-silhueta da perspectiva de olhos virados. Um impulso para dentro. O estar-cá-fora. Uma permissão de ser e de não ser. O olhar de espectador de um encenador na sala espelhada. Vejo-me assim, idiossincrático, entre histórias que se atravessam na cena daqui e de agora. Toda escolha é uma opção, e todo encenador traz consigo, de uma forma ou de outra, dispositivos e linguagens. Qualquer movimento na cena tem precisão de sentido. É a imagem corporal temperada com os modos de pensar e ser da arte. Experiência e experimento que, sem o exaustivo diálogo e o não-se-deixar-fluir de desejo, no escoar do acontecer cênico, não haveria nenhum horizonte, a não ser uma linha vertical, sem superfície plana, de profundidade e altitude. Perder-se para se encontrar. Assim a linha disforme e desviada da narrativa segue tentando arrebatar sentidos e nunca significados. A morte do pai parece necessária, como um mote do poema ou um motim. Perder o rumo. Uma Trupe conectada por avarias, por dissonâncias. O devir-criança e o devir-mulher em mutação fragmentam as linhas de significações. Lorde se angustia com o porvir. Bufo conforma-se com suas certezas temporárias. Bela é a potência de um devir-criança, de um fluxo cortado pela máquina-desejante. Ziga, um devir-mulher, moléculas de vida e morte, o grito de Edvard Munch, uma esganiçada voz inconformada: os yanomamis, as crianças, os quilombolas, as mulheres, LGBTs, o grito: Marielle vive! Não ao golpe! Fim da perversidade aos direitos conquistados! No entre, no caos, o Roto, amiúde e transversal, cintilando a cena de ruídos e harmonias, antonímia de assimetria, discrepâncias sonoras desejadas, e vozes em desacordos. Como encenador teço o manifesto ao espectador-Deus do centro, da margem, do presente e onipresente estado de ser dos artistas, antes do seu desaparecimento. Mas afinal que escola é essa? Entre os folguedos no nordeste brasileiro, práxis teatrais no palco e na rua, vivências e estudos dramáticos multiculturais na academia de pedagogia do teatro de Heidelberg na Alemanha, emerge em mim um modo de ser na arte do teatro, na sala de aula e na vida. Um estado de inspiração que me permito e faço as conexões com os outros. Da simbiose, gratidão, a criança nasceu e foi nomeada “Nos confins do horizonte”, engatinhou e já fica em pé, abraço-a e sigo.


Mossoró, 25 de maio de 2018
Hélio Lima

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nos Confins do Horizonte

Estamos preparando nosso novo espetáculo. Nos Confins do Horizonte . O espetáculo  é resultante de investigações cênicas e experimentaçõe...