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Fotos de Wigna Ribeiro |
Sinopse o
Espetáculo
A vida é só desafio. “Nos confins do
horizonte” é uma peça-silhueta da
perspectiva de olhos virados. Um impulso para dentro. O estar-cá-fora. Uma
permissão de ser e de não ser. O olhar de espectador de um encenador na sala espelhada. Vejo-me assim,
idiossincrático, entre histórias que se atravessam na cena daqui e de agora.
Toda escolha é uma opção, e todo encenador
traz consigo, de uma forma ou de outra, dispositivos e
linguagens. Qualquer movimento na cena tem precisão de sentido. É a imagem corporal temperada
com os modos de pensar e ser da arte. Experiência e experimento que, sem
o exaustivo diálogo e o não-se-deixar-fluir de desejo, no escoar do acontecer
cênico, não haveria nenhum horizonte, a não ser uma linha vertical, sem
superfície plana, de profundidade e altitude. Perder-se para se
encontrar. Assim a linha disforme e desviada da narrativa segue
tentando arrebatar sentidos e nunca
significados. A morte do pai parece necessária, como um mote do poema ou um
motim. Perder
o rumo. Uma Trupe
conectada por avarias, por dissonâncias. O devir-criança e o devir-mulher em
mutação fragmentam as linhas de significações. Lorde se
angustia com o porvir. Bufo conforma-se com suas certezas temporárias. Bela é
a potência de um devir-criança, de um fluxo cortado pela máquina-desejante. Ziga,
um devir-mulher, moléculas de vida e morte, o grito de Edvard Munch,
uma esganiçada voz inconformada: os yanomamis, as
crianças, os quilombolas, as mulheres, LGBTs, o grito: Marielle vive! Não ao golpe!
Fim da perversidade aos direitos conquistados! No entre, no caos, o Roto,
amiúde e transversal, cintilando a cena de ruídos e harmonias, antonímia de
assimetria, discrepâncias sonoras desejadas, e vozes em desacordos. Como
encenador teço o manifesto ao espectador-Deus do centro, da
margem, do presente e onipresente estado de ser dos artistas, antes do seu
desaparecimento. Mas afinal que escola é essa? Entre os folguedos no nordeste
brasileiro, práxis teatrais no palco e na rua, vivências e estudos dramáticos
multiculturais na academia de pedagogia do teatro de Heidelberg na Alemanha, emerge
em mim um modo de ser na arte do teatro, na sala de aula e
na vida. Um estado de inspiração que me permito e faço as conexões com os outros.
Da simbiose, gratidão, a
criança nasceu e foi nomeada “Nos confins do horizonte”, engatinhou e já
fica em pé, abraço-a e sigo.
Mossoró, 25 de maio de 2018
Hélio Lima
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