terça-feira, 2 de abril de 2013

ESSENCIAIS

Crítica do Filósofo José Heitor Barbosa sobre o espetáculo Ciganos

Recentemente tive a oportunidade de assistir ao espetáculo “Ciganos”, realizado pela Cia de teatro de rua Escarcéu. O espetáculo desenvolvido pelo grupo se fundamentaria na tradição cigana, utilizando-se dessa cultura (e de sua estética) para estabelecer, em minha interpretação, uma narrativa ao melhor estilo clássico.
O Primeiro aspecto do qual pude notar era o próprio figurino dos atores que correspondia ao imaginário popular da particular indumentária daqueles grupos nômades, em toda a sua vivacidade de cores, das roupas ricamente confeccionadas e dos seus numerosos adornos. No decorrer do espetáculo, podíamos notar também outros aspectos essenciais que era a forte presença da música e da dança, sempre realizadas num tom alegre e festivo, o que me pareceu formar uma espécie de tríade (constituída de figurino, dança e música) que se prestava para ressaltava o vigor com o qual é marcada esta tradição.
Em segundo lugar, percebi que o enredo recorria, em linhas gerais, as características formais de textos épicos clássicos, tomando por referência o grego (pelo qual possuo maior identificação), em que temos um personagem principal (no espetáculo, Kali) que este imbuído de um destino especial, e do qual terá de carregar também todo o destino do seu povo e para isso se faz necessário deixar a sua casa e sua pátria na realização deste destino.
Para o momento inicial da jornada há sempre a presença de um guia, a mãe de Kali representa essa figura mais experiente que aconselha e orienta o filho para os perigos e dificuldades a serem vencidas, esta representação feminina não é corriqueira, ela é utilizada com bastante recorrência como personagem que direciona caminhos, num correlato com as figuras oraculares ou possuindo esses próprios atributos de oráculo.
O enredo do “Ciganos”, mantem a ideia das tarefas a serem superadas para que haja o amadurecimento e transformação do personagem central, e toda modificação envolverá o contato de si para consigo mesmo e para com seu próprio grupo, desse modo, vai-se estabelecendo relações de identidade, comprometimento e responsabilidade, meios pelos quais deve-se percorrer para o cumprimento da jornada, para que, enfim,Kali pudesse retornar ao próprio lar (e ao descanso e glória, depois de todo o esforço realizado) já transmutado em outra pessoa.
Estas foram às linhas gerais do qual pude perceber no espetáculo “Ciganos”, existe ainda outras referências específicas das próprias lendas ciganas, mas quanto a extensão dessas raízes no espetáculo eu não sei ao certo mensurá-las.





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